O FUTURO DO VINHO
Este texto será, provavelmente, um dos mais difíceis e controversos que já escrevi; o oráculo de uma bebida histórica, cultural, social, testemunha da ascensão e queda de impérios, dos ritos profanos e sagrados, de todas as etapas da vida pública e privada, é tão imprevisível quanto o limiar entre os efeitos positivo e negativo do álcool em cada ser humano.
Em 2025, um artigo do bioquímico David Marçal intitulado “Beber vinho é dar cancro a muitos portugueses” e as reações, múltiplas, de associações setoriais, do produtor e jornalista Pedro Garcias ou do cronista social e autobiográfico Miguel Esteves Cardoso, inflamaram o debate acerca do impacto do vinho (e o seu teor alcoólico) na sociedade e do futuro desta bebida basilar do habitat mediterrânico.
Está bem documentado que o álcool puro, maioritariamente etanol, um dos constituintes do vinho, é uma droga barata : o álcool, no corpo humano, é decomposto através de múltiplos processos metabólicos. A principal via envolve duas enzimas: a álcool desidrogenase (ADH) e a aldeído desidrogenase (ALDH). No fígado, a ADH inicia a degradação ao converter o álcool (etanol) em acetaldeído (CH₃CH=O). O acetaldeído é um metabolito intermediário e é altamente tóxico e carcinogénico. O acetaldeído induz inflamação e transformação das células que revestem a traqueia, interfere com a reprodução normal das células e intensifica a lesão celular da mucosa gastrointestinal associada ao crescimento celular excessivo.
No decurso da minha carreira académica, culminada com um Doutoramento em Engenharia Alimentar, experienciei as virtudes e as falhas do método científico; das hipóteses levantadas, da revisão bibliográfica, dos métodos experimentais, da análise de dados, dos resultados e discussão das hipóteses iniciais e de uma conclusão com indicação de perspectivas para futura investigação.
Tentei fazer um abreviado resumo científico acerca dos desenhos experimentais, da análise de dados e respetiva discussão das evidências do consumo de vinho e o seu impacto na saúde; muitas foram as questões desviantes e tendencialmente clubísticas que encontrei no caminho: […]
w-anibal.com/wp-content/uploads/2025/12/GCA2026.pdf
Por Aníbal José Coutinho
Aníbal José Coutinho
















